Vamos falar sobre a importância do dia 25 de julho e a luta de nós mulheres negras, latino-americana e caribenha.
Essa é uma data de reparação histórica, proveniente de nossa luta e da visibilidade que estamos construindo, porém continuamos sendo silenciadas por movimentos feministas que acham que sempre precisamos de aval para entrar e permanecer nos lugares, ou apresentam ainda a síndrome da branca salvadora.
A luta da mulher negra é um caminho individual e solitário, de alguém que na grande maioria precisa ser forte e está cansada, precisa provar a sua importância social e intelectual. Nosso caminho está sempre sendo o provar.
Não somos vistas como sujeitos, e por outras mulheres somos apontadas como agressivas. Somos assim silenciadas pelas que “acham “que tem o direito de silenciar-nos, por sim se considerarem superiores.
É sobre isso a importância do dia 25 de julho. Uma luta que não nos deixa baixar a cabeça para qualquer tipo de opressão, sendo essa pelas que dizem semelhantes, ou aqueles que nos querem silenciar através da tal salvação que vem do branco.
Quando analiso o pensamento de ativistas feministas tenho como principal fonte Lélia Gonzales. Lélia é a uma inspiração quando se fala sobre o estudo afro latino americano e sobre mulheres negras. Ela traduz as nossas dores e os nossos sonhos em textos com uma abordagem pontual sobre as mulheres negras e as dificuldades para alcançar o topo da pirâmide social .
E aí começamos a pensar o que é feminismo e para quem?
Quantas mulheres negras se viram silenciadas por outras mulheres brancas achando que a maneira em que elas dominam a escrita era superior ao nosso?
Quantas vezes nos vimos em processos seletivos em que nossa linguagem, postura e vestimenta não era "coerente" com aquele ambiente? Nossos cabelos não eram adequados ou chamava a atenção demais para estarmos naquele cargo? Nossas bundas que chamam atenção demais... e isso é apenas um dos poucos empecilhos que as mulheres negras passam para ter um trabalho ou escolaridade digna.
Bem, passei por todas essas etapas, seja no trabalho ou em grupos “feministas”, que ditam como objetivo levar a voz da mulher. Porém me pergunto que mulheres essas mulheres representam?
Quando interferem na minha escrita de modo nada acadêmico não me representam. Não necessito de lembranças históricas brancas para falar da luta que travo todos os dias. Preciso de armas para levar um novo contexto sobre o feminismo negro e a sua real representação.
Nós mulheres negras somos obrigadas a dominar códigos que nos diminuem e quando avançamos em um núcleo de fortalecimento vêm e mudam esses códigos.
Estamos falando de luta e precisamos colocar para fora os nossos traumas e silenciamentos. Essa data mostra que não devemos parar para dar voz àqueles que somente querem desnutrir nossa essência, para tornarem-se salvadores. Querem nossa luta contada através de suas narrativas, mas a luta é nossa e nós temos o direito de falar e expressar sobre a maneira que somos atingidas. Essa data é em comemoração ao que já conquistamos e para discussão sobre aquilo pelo que ainda temos que lutar. Essa data é importante para que repensemos as estruturas sociais.
Sobre a autora: Meiriane Jordão é mestre em Mídias pela Unesp, ativista do feminismo negro, professora do ensino fundamental e de Escola de Jovens e Adultos.

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